Exposição 'Sankofa: Memória da Escravidão na África', no Rio de Janeiro

©Cesar Fraga

Exposição 'Sankofa: Memória da Escravidão na África', no Rio de Janeiro

A mostra “Sankofa: Memória da Escravidão na África” é o resultado sem precedentes, em forma e extensão, da viagem afetiva do fotógrafo e designer gráfico Cesar Fraga, que percorreu nove países africanos para investigar suas próprias origens, e descobriu aspectos ligados à ascendência de milhões de brasileiros.

A exposição é interativa: reúne 54 fotos impressas em papel algodão, conta com textos sobre as características de cada país visitado e traz o mapa africano plotado no piso da Galeria 1. Sobre os nove países, totens multimídia exibem imagens das cidades percorridas pelo fotógrafo, num total de 250 itens. A coluna central da Galeria é coberta por uma imagem gigante do Oceano Atlântico, e os visitantes podem colocar mensagens dentro de garrafinhas plásticas e jogá-las dentro de uma gaveta de acrílico colada a esta parede, como se fossem lançadas ao mar. Estas mensagens serão entregues posteriormente a crianças dos países africanos contemplados na exposição.

Origens:
Sankofa é um mítico pássaro africano de duas cabeças, que, segundo a concepção nativa, simboliza voltar ao passado para dar outro sentido ao presente. Uma curiosidade incômoda pela história por trás da história da escravidão e o fascínio em relação às proximidades culturais entre o Brasil e os países africanos que comercializavam escravos foram os fios condutores que levaram o fotógrafo César Fraga a se lançar à aventura de investigar as próprias origens. O tráfico humano, os perigos e as desventuras da saga de captura até o início da viagem dramática dos aprisionados às terras brasileiras, passando por hábitos, crenças, mitos, misérias e riquezas dos povos locais – foram muitos os estímulos para experiências sensoriais, emotivas e, também, espirituais.

“Sankofa: Memória da Escravidão na África” é o resultado dessa busca, que trouxe registros socioculturais ainda intactos daquele que é um dos episódios de deslocamento forçado mais violentos do mundo. A exposição foi montada com fotografias do livro Do Outro Lado, que resultou da expedição de Fraga, documentando a cultura e o cotidiano das localidades visitadas e, por vezes, sua correlação próxima com os hábitos no Brasil numa perspectiva contemporânea. A obra traz textos da escritora mineira Ana Maria Gonçalves, que desenvolve estudos sobre identidade afrodescendente, e do historiador Maurício Barros de Castro. Os dois também colaboraram com o professor e escritor João Reis, que elaborou o roteiro da viagem. Parte desse conteúdo foi publicada no caderno “Somos todos África” (Jornal Extra, 2014), o que rendeu ao fotógrafo um prêmio de excelência pela Society for News Design (SND).

Bisneto de uma beneficiária da Lei do Ventre Livre, Cesar Fraga se aproximou desse universo durante um ano sabático na África do Sul. Lá, percebeu a necessidade de dar sua contribuição para encurtar a distância cultural que separa o Brasil do continente africano.

Um dos mais importantes africanistas brasileiros, João Reis, em seu roteiro, contemplou aspectos da memória material e imaterial das principais cidades e regiões protagonistas do tráfico de escravos. Reis fez um resumo de cada lugar, com informações sociais, demográficas, culturais e antropológicas. Com base nisso, Fraga traçou sua rota. Em 2013, viajou por 50 dias, cobrindo oito países. Em 2014, conheceu a Nigéria, em visita que durou 10 dias. Maurício Barros de Castro o acompanhou em toda a jornada.

Em 60 dias, foram inúmeras as aventuras vividas em Cabo Verde, Senegal, Guiné-Bissau, Gana, Togo, Benim, Nigéria, Angola e Moçambique – “lugares de memória” da escravidão. Desses países, saiu boa parte dos 11 milhões de homens e mulheres feitos cativos, quase metade tendo o Brasil como destino, ao longo de 350 anos.

Este é um dos primeiros trabalhos de documentação de Cesar Fraga como fotógrafo. A motivação para embarcar nessa jornada tem relação com a busca pelo conhecimento do passado, das raízes históricas e da ancestralidade. Devido às dificuldades burocráticas para entrar nos países, ele considera a empreitada uma vitória particular e de seus companheiros, sem, no entanto, considerar que esgotou as possibilidades de investigação sobre o tema.

Sobre Cesar Fraga:
Designer formado pela Escola Superior de Desenho Industrial (UERJ), pós-graduado em Marketing pela COPPEAD (UFRJ), Cesar Fraga é fotógrafo autodidata e já atuou em projetos na América do Sul, Europa, África, Ásia e Antártica. Colabora com diversos veículos de comunicação, como o Jornal Extra e as revistas National Geographic, Gol e História Viva. É autor das quatro exposições “Pomeranos de Jetibá” (2013/2014) e dos livros “Do outro lado” (2014) e ‘Empurrando água’ (2015). Ganhou um Prêmio Excelência, da Society for News Design (SND) pelo conjunto de fotos do caderno ‘Somos todos África’, publicado no Jornal Extra em 2014.

Algumas fotografias da exposição:


©Cesar Fraga

©Cesar Fraga

©Cesar Fraga

©Cesar Fraga

©Cesar Fraga


SERVIÇO
Exposição: ''Sankofa: Memória da Escravidão na África'
Local: Caixa Cultural Rio de Janeiro
Endereço: Avenida Almirante Barroso, 25 Centro – Rio de Janeiro – RJ 
Temporada: de 18 de outubro a 22 de dezembro de 2016.
Horário de visitação: terça a domingo das 9h às 21h
Ingressos: entrada gratuita
Outras informações: Caixa Cultural Rio

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